Por Luciana Gaudio Martins Trontzek*
Qualquer pessoa, em qualquer idade, gênero, escolaridade, nível hierárquico ou econômico pode sofrer assédio moral no trabalho. Percebe-se que há um efeito cascata e a pressão costuma vir dos níveis superiores até chegar ao trabalhador ocupante de cargos inferiores. Assim, não é raro que o assediador esteja reproduzindo o assédio em seus subordinados. A pressão começa no nível macro, com a globalização e a extrema competição mercadológica que marca o sistema capitalista no qual vivemos.
Esta cultura é marcada por foco em lucro e desempenho, o que perpassa toas às condições de trabalho atuais e propicia campo fértil para o desenvolvimento de práticas como a do assédio moral. Por isso, todos estamos sujeitos a essa violência, mas, ainda assim, pesquisadores, através de contato com as pessoas que já sofreram assédio, levantaram alguns perfis mais propensos e algumas atitudes mais comuns que estão listadas abaixo:
Perfil das vítimas de assédio
- Homens em um grupo de mulheres e vice-versa; mulheres casadas ou com filhos pequenos; pessoas com orientação sexual, religiosa ou cor de pele diferentes da pessoa que assedia;
- Profissionais competentes que possam fazer sombra ao superior hierárquico ou a um colega. Casos em que é grande a tentação de rebaixá-los ou afastá-los. “A incompetência é uma ameaça para a própria pessoa; a competência é uma ameaça para os outros”;
- Profissionais com altos salários que não se curvam ao autoritarismo nem se deixam subjugar;
- Pessoas saudáveis, éticas e escrupulosas cuja personalidade perturba os demais. Não raro essas pessoas encontram dificuldades de adaptação ao grupo ou à estrutura;
- Pessoas que fizeram as alianças erradas ou não têm a rede de comunicação certa;
- Trabalhadores que, mesmo temporariamente, não podem ser demitidos, como empregados do setor público e os representantes sindicais. Esses são assediados em uma tentativa de fazê-los calar as denúncias de irregularidades cometidas no ambiente de trabalho;
- Pessoas com desempenho abaixo da equipe. Essas, quando atrapalham o desempenho coletivo, sofrem isolamento e rejeições violentas por parte dos colegas de trabalho que se tornam menos tolerantes;
- Pessoas temporariamente fragilizadas que acabam se tornando alvo de colegas ávidos por ocupar o seu lugar ou da própria diretoria com necessidade de enxugar o quadro de pessoal;
- Pessoas com limitação de oportunidades por serem especialistas, portadoras de necessidades especiais, as que têm senso de culpa muito desenvolvido e as que vivem sós.
Condutas mais frequentes dos assediadores
(lembrando que precisam ser frequentes e repetidas para se caracterizar o assédio)
- Dar instruções confusas e imprecisas ao trabalhador;
- Atribuir erros imaginários ao trabalhador;
- Atribuir ao trabalhador tarefas estranhas ou incompatíveis com o cargo;
- Sobrecarregar o trabalhador com tarefas sem necessidade, esvaziá-lo de suas tarefas ou não lhe atribuir tarefas;
- Sobrecarregar o trabalhador com trabalhos urgentes ou prazos inexequíveis;
- Ignorar o trabalhador, não lhe dirigindo a palavra ou não o cumprimentando na presença de terceiros;
- Dirigir ao trabalhador brincadeiras de mau gosto ou criticá-lo em público;
- Impor ao trabalhador horários injustificados de trabalho;
- Fazer circular boatos maldosos ou caluniosos sobre o trabalhador, ou insinuar que ele tem problemas mentais ou familiares;
- Retirar do trabalhador seus materiais ou instrumentos de trabalho (telefone, computador, impressora, armário, mesa, cadeira, etc.);
- Agredir com palavras ou fisicamente o trabalhador quando estão a sós;
- Proibir colegas de falar ou se relacionar com o trabalhador;
- Forçar a demissão do trabalhador ou transferi-lo para setor isolado.
* Luciana Gaudio Martins Frontzek é especialista em psicologia do trabalho pela UFMG, em neuropsicologia pelo CFP, em Fenomenologia pela FCMMG. Mestre em psicologia social pela UFMG tendo publicado dissertação sobre assédio moral no trabalho, doutora em saúde coletiva pela Fio Cruz e pós-doutora em intervenções clínicas e sociais pela PUC-Minas. Atualmente é psicóloga do SINJUS-MG, sendo membro da comissão de assédio moral do Sindicato, e é professora universitária do UNI-BH e da Universo.
Fonte: Sinjus
Publicado em 15/10/2019 às 10:00